Quando, a 14 de Março de 2019, o ciclone Idai se abateu sobre a cidade da Beira, Adelaide Sabão era uma empresária do ramo de restauração, que empregava 20 trabalhadores e o seu negócio estava de “vento em popa”. Acabava de reabilitar instalações alugadas, nas quais funcionava, instalara um furo de água e via o negócio a crescer e augurava voos maiores, de tal modo que nem o crédito com uma instituição bancária a assustava.
Dias após a passagem do ciclone, viu a sua vida pessoal e empresarial revirada. A braços com a destruição de todo o equipamento e bens adquiridos, destruição completa das beneficiações que fizera, roubo dos bens que resistiram, dado que o muro de vedação desabara e sem meios de subsistência e condições para continuar a pagar a banca e dar seguimento aos negócios, Adelaide experimentou a falência.
“A dona das instalações com quem acordei verbalmente a amortização do investimento realizado na reabilitação das instalações por via do desconto nas rendas mensais, não mais se manifestou disposta a cumprir com o acordo verbal e, para agravar, as instalações recentemente reabilitadas já não ofereciam condições para o desenvolvimento de qualquer actividade. – Conta.
Adelaide conta que se viu desesperada e na contingência de ter de despedir todos os trabalhadores. Contudo, buscando forças na experiência adquirida e na rede de clientes que já fidelizara, tomou uma decisão drástica e muito criticada no seio dos seus próximos: decidiu vender a sua casa localizada num dos melhores bairros da cidade da Beira. Com o valor adquiriu uma ruína, a qual reabilitou e recomeçou o negócio.
Não está a ser fácil, uma vez que estou a pagar letras aos bancos, mas já retomei e consegui manter 13 trabalhadores, pese embora esteja na iminência de despedir três, por dificuldades várias, dentre as quais, as obras que estou a construir e as várias contas. Só para se ter uma ideia, até ao mês de fevereiro tinha contas com um agiota a quem recorri devido a dificuldades de acesso ao crédito bancário.”
Contudo, guerreira como é, tem fé de que, até ao fim de 2021, estará de volta aos níveis anteriores, acreditando que contribuirá para o efeito, (i) a diversificação dos negócios (abriu uma escola de culinária, presta serviços de restauração, criou – em regime de sociedade – um instituto de formação, dentre outros) e, sobretudo, (ii) “esta formação de que beneficiei.” E sustenta: “parte dos prejuízos que sofri foram devido ao facto de ter tratado os meus negócios na base da confiança, sem precisar de escrever. Nunca gostei de escrever e sempre confiei na palavra das pessoas. Se tivesse escrito o acordo com o dono do anterior estabelecimento onde operava, os prejuízos seriam menores.”
Adelaide Sabão é proprietária da empresa Riadel e uma das beneficiárias da capacitação sobre a elaboração do plano de continuidade e desenvolvimento de negócios, ministrado pela Gapi, num projecto conjunto com a OIT e PNUD. Além da formação, beneficiou de um financiamento de 500 mil meticais, valor com o qual vai dinamizar o seu negócio.