“Estamos na fase final de concluir o plantio dos primeiros 200 hectares de cajuais novos aqui em Mogovolas” – informou Agostinho Emiliano, presidente da Associação de Produtores de Manlahipa, distrito de Mogovolas, Nampula. “Este trabalho que estamos a fazer em parceria com a Condor e a Ikuru junto desta comunidade é um exemplo de uma das coisas que deve ser feita para salvar o caju como importante sector económico e social do país. Quando aliamos industriais e agricultores, contribuímos para postos de trabalho na fábrica e melhores rendimentos para os agricultores” – acrescentou João Maunze, director executivo da Gapi. Agostinho Emiliano e João Maunze prestavam estas informações numa visita de monitoria ao projecto de fomento de cajuais comunitários promovido pela Gapi em parceria com as empresas Condor e Ikuru.
O grupo Condor, com três fábricas de processamento de castanha de cajú nas localidades de Nametil e Anchilo, na província de Nampula e uma na Macia, em Gaza, associou-se à Gapi-Sociedade de Investimentos para desenvolver um programa de melhoria dos rendimentos de produtores familiares e consolidarem a cadeia de valor do cajú. A Gapi tem vindo a prestar assistência técnica e formação a agricultores líderes que promovem a constituição de organizações locais habilitadas a promoverem o rejuvenescimento de cajuais ordenados segundo as melhores práticas agronómicas.
“Hoje, o rendimento dos agricultores anda em média pelos 16 mil meticais por ano. Claro que eles têm outros rendimentos, pois o cajueiro é um complemento. Mas daqui a uns 3 a 4 anos o rendimento proveniente do cajual de uma família com 4 hectares e com árvores de novas variedades como as que estão a ser plantadas em Mogovolas, pode atingir cerca de dois mil dólares por ano. Estamos a falar de melhorias de rendimentos entre seis a dez vezes mais do que os actuais.” – esclareceu Silvino Martins, administrador da Condor que trabalha no sector há quinze anos.
“O cajueiro não consome muito tempo e trabalho do agricultor. – acrescentou Silvino Martins. – Mas é preciso alguma disciplina, particularmente na limpeza à volta. Por isso, o trabalho de formação e assistência aos líderes das organizações da comunidade é muito importante. Além disso, enquanto o cajueiro está a crescer, durante os primeiros 3 a 4 anos, a mesma área pode ser usada para o cultivo de culturas alimentares e de rendimento como amendoim, feijões, entre outros”.
A constituição da Associação de Produtores de Castanha de Caju Manlahipa ocorreu a 13 de Julho de 2018 com um número inicial de 64 agregados familiares. O número de membros tem vindo a crescer, sendo agora de 80. No acto de constituição os membros aprovaram como objectivos: “Mobilizar os residentes de Manlahipa para fazerem plantio de cajueiros melhorados; facilitar o registo de terras dos membros da associação; garantir a adopção de tecnologia de plantio de cajueiros para assegurar produtividade e aumento da produção de castanha; promover a educação financeira no seio dos membros da associação; garantir boas práticas de preservação ambiental e de proteção contra o HIV e SIDA e outras doenças endémicas”.
“A Gapi considera o caju como uma das culturas perenes com maior impacto na estabilidade e bem estar das famílias rurais e na economia nacional. Moçambique já foi o maior produtor de caju a nível mundial. Somos parceiros do Governo desde que em 2001 se deu início à implementação da Lei de Industrialização do caju que estabelece uma taxa sobre a exportação de castanha não processada. Ser parceiro significa estar no terreno e fazer coisas concretas com os diferentes grupos que trabalham no sector do caju para criar riqueza para o país” – acrescentou António Souto, fundador e assessor principal da Gapi no encontro de cortesia mantido com o Administrador de Mogovolas, Iasalde Ussene.
Com assistência da Gapi, esta organização obteve três DUATs cobrindo uma área total de 634 hectares distribuídos em três blocos. Uma parte dos 28 800 cajueiros, que ocupam os primeiros 200 hectares, vão começar a produzir em 2021/22. Cada agregado tem o seu lote individual e a responsabilidade de plantar e cuidar dessa área. Cada lote tem pelo menos 4 hectares. Em cada hectare plantam-se cerca de 150 árvores, mas pode ir até 200.
“Todo este trabalho de organização e assistência técnica, em curso desde 2018, tem sido realizado sem assistência financeira do Governo. São as nossas empresas que estão a custear o projecto de Manlaipa. Mas agora, com a criação do Instituto de Amêndoas pode ser que haja mais atenção ao nosso contributo” – disse João Maunze.
Durante o Fórum sobre a comercialização agrícola realizado em 29 de Agosto em Nampula e na presença do Chefe de Estado, o economista António Souto, fundador e assessor principal da Gapi alertou para os “riscos de destruição da nascente indústria do cajú, se não forem tomadas medidas urgentes de caracter financeiro para apoiar o sector, bem como intervir contra os piratas que usam a comercialização do caju para lavar dinheiro e exportar capital ilegalmente”.
“Os Governo da Índia e do Vietname tomaram fortes medidas para proteger a sua indústria do caju. Não compreendo porque estamos a hesitar em proteger este sector. É um sector que emprega cerca de 15 mil trabalhadores. A concorrência desleal e a falta de apoio financeiro agravada pela crise da pandemia já causaram o encerramento de cerca de 10 fábricas com mais de 10 mil trabalhadores no desemprego” – acrescentou António Souto.
“Entre 1995 e 1999, o Governo de Moçambique cedeu a pressões movidas pelo lobby da indústria indiana do cajú, permitindo que uma grande parte da amêndoa do caju fosse exportada em bruto, em vez de ser processada nacionalmente. Na altura perderam-se milhares de postos de trabalho. Sem uma intervenção urgente e na situação crítica em que o País se encontra, o encerramento dessas fábricas vai ser uma tragédia de dimensões incalculáveis” – advertiu o economista António Souto.